Sempre disse a ela que a sua existência me dava à certeza de
que nunca estaria sozinha no mundo. Sinto sempre a necessidade de dizer a ela o
quanto sou abençoada por convivermos juntas por tantos anos. Perdi meu pai e
por agora não tenho força pra falar
dele, mas como ele mesmo dizia: e sua
companheira? Então hoje vou falar da minha companheira!
Ela é a irmã que nunca tive e a escolha que fiz para estar
ao meu lado em todos os momentos da minha vida.
A verdade é que nunca tivemos dúvida sobre o que significamos
uma para a outra, nem o tempo foi capaz de dissolver laços tão fortes.
Conhecemo-nos com aproximados nove anos de idade, não sei
muito ao certo, mas creio que seja isso mesmo. Se você me perguntar como nos
conhecemos exatamente não saberia responder, mas sei que nos tornamos vizinhas
de rua no mesmo bairro que morei por 15 anos.
E lá ela estava, na infância, na pré-adolescência, na
adolescência, na juventude, na fase adulta finalmente.
Prometi escrever um livro sobre tudo que passamos juntas, foram
muitas histórias, muitas aventuras e todas elas contando sempre com a presença
de uma na vida da outra.
Renovamos nosso circulo de amizades, fizemos amigos em
comum, dividimos amigos, em algumas fases nos distanciávamos um pouco e
ficávamos com os outros amigos, mas no final sempre estávamos lá.
Talvez por isso nossa amizade tenha se fortalecido tanto.
Porque sempre soubemos a hora de respirarmos um pouco uma longe da outra. E
isso nunca foi motivo de discórdia, no fundo aceitávamos naturalmente embora às
vezes nos chateássemos.
E diante de tudo isso presenciamos nossas formaturas, nossas
carreiras começando, nossos casamentos, nossas separações, nossos recomeços,
nossos filhos, doenças, frustrações, alegrias, conquistas, tristezas e morte...
e sempre lá, uma com a outra.
Nem a distancia física foi capaz de separar. Nem namorado,
nem ex-marido, nem marido, nem nada... A gente sabe o valor e o espaço de cada
uma na vida da outra e quanto isso ninguém seria mais forte.
Talvez a gente se conheça melhor do que nossos próprios pais
conheçam, nossos filhos, marido, namorado e etc.
Mas uma coisa nela é irritante. Durante todos esses anos não
me recordo de vê-la triste, realmente triste ou deprimida. Nunca a vi me
destratando, me ignorando ou algo desse tipo. Mas ela é chorona, se atrasa e
adora fazer chantagem emocional.
Tudo que ela conquistou durante esses anos são de grande
merecimento.
Acho mesmo que ela merece ser a pessoa mais feliz deste mundo.
Dividimos nossos filhos como mais uma tentativa sem
necessidade de que a gente nunca se separe. Somos comadres duplamente. Ela me
presenteou com uma linda menininha e eu a presenteei com um lindo menininho tão
sonhado e aguardado.
Em todos os momentos da minha vida, nas horas felizes ou
triste era nela que sempre pensava. Era ela que gostaria que fosse a primeira,
a saber. Nem sempre foi possível, mas ela sabe das intenções.
Ela é mesmo a certeza de que nunca estarei sozinha. Ela sabe
a hora de somente me abraçar e nada mais do que isso.
Muitos passaram. Muitos estão passando e ela continua.
Ela me admira como ser humano, como profissional e a torcida
dela pelo meu sucesso é o mais verdadeiro que possa existir.
O marido dela tem sorte, os filhos dela tem sorte, os pais e
irmãos dela tem muita sorte... Porque Deus em sua infinita bondade a deu de
presente a todos eles.
Ela sempre segurou a minha mão quando estava prestes a cair,
às vezes já havia caído, mas ela sempre, sempre, sempre tentou me levantar.
Sempre chorou comigo diante das minhas tristezas e angústias. Sentia que a
minha dor sempre foi a sua dor também quando mais precisei de um amigo.
Nosso plano de passar a velhice juntas ainda está de pé e
tenho certeza que é mesmo o que vai acontecer.
Ainda vamos sentar em uma varanda já com nossos filhos
criados e com netos, e vamos nos dar as mãos com a sensação de que fizemos tudo
que deveríamos ter feito uma pela outra.
Eu a amo imensamente e sempre vou amar até o último suspiro
de vida que tiver.
Just call
my name and I’ll be there...
